sexta-feira, 8 de março de 2019

Pretérito imperfeito

Você está só enquanto anda pela neve,
perdidos seus olhos não trazem mais aquele brilho
Jovial não é mais
Forte não é mais
Só está passando pelos trilhos umedecidos pela neve derretida
Resfriados pelo frio intenso
Ninguém mais poderia te tirar de seu caminho
É descer colina abaixo
Oque é esse sussurro no meio da noite?

Descalço
você não é ninguém
para o cavalo que passa selado
sem dono
Descamisado
você é alguém,
o qual no frio lembra abandono
Eu não te pedi para descer
Ninguém vai te tirar desse buraco
Está tão escuro e cinza a noite
Eu queria só descansar

No espelho,
como num clichê,
eu não sei mais quem sou
Eu sou mutante
Eu sou estranho
Eu sou um velho
Eu sou um verbo
Pretérito imperfeito

Todas as escolhas e esperanças,
Tudo reavaliado aqui do alto
Senti que errei tanto, quanto acertei
E assim cheguei até você
Me abrace e mostre sua face
Quando criança eu criava histórias
Mas a maior história sempre foi você
Eu, velho.

Tranquei tanto de mim por muito tempo
Que até me esqueci do essencial
Quando criança eu esperava mais
Você parecia mais alto
Você parecia mais forte
Você deveria ser mais sábio
Mas é só mais um homem descendo o vale.

Transportei minha mente para a sua
E pude ver oque me tornei
Mesmo assim não pude evitar
E aqui estou eu
Tão despedaçado como previ
E tudo que releio ainda dói
Todas as coisas pareciam perdidas
Nos escombros do esquecimento
Remexer foi um erro
Nós dois sabemos.

Vem cá e cante comigo
À nossa vida
Eu no meio,
a criança no inicio
e você no final:
quem saberá do amanhã se não pára de olhar o ontem?
quem saberá do amanhã se apegando tanto ao hoje?
quem voltará amanhã com um sorriso amarelo?
quem aprendeu que não tem trilha?
quem esqueceu de rimar?
quem disse que era poesia?
quem disse que não será?


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